Jornal Mural

Projecto cooperativo de intervenção pública através de pinturas murais, concretizado em São Tomé e Príncipe entre 2011 e 2013, coordenado por Hugo Canoilas e Miguel Ferrão.

Jornal Mural é um projecto de intervenção cooperativa, no qual diferentes autores se reúnem dando a ver o trabalho de outrem, apresentando-o nas ruas, tendo em vista o contacto directo com um público geral. O projecto toma como impulsos os documentos afixados durante o PREC (Processo Revolucionário em Curso) - designação do período de transição democrática na década de 1970, em Portugal, os dàzibáo chineses - cartazes de grande dimensão usados como meio de comunicação e protesto populares e a Poesia Marginal brasileira da década de 1970, distribuída através de cópias mimeográficas. Jornal Mural tem pois, por objectivo maior, a apresentação ou inserção de capital cultural junto da população, acolhendo colaborações de autores com interesses diversos e mapeando a heterogeneidade das práticas contemporâneas.

A terceira e presente edição do Jornal Mural é também uma reformulação do próprio projecto inicial, passando a prevalecer uma colaboração íntima entre dois autores, Hugo Canoilas e Miguel Ferrão, enquanto zona de confluência. Em São Tomé e Príncipe, o Jornal Mural adoptou como metodologia a pintura directa sobre parede, concretizada em locais definidos com as diferentes comunidades envolvidas na programação Aguêdê/Alê, em relação com um conjunto de textos e imagens de autores previamente seleccionados. Estas narrativas prévias foram, depois, discutidas, adaptadas e reconstruídas localmente, assumindo-se uma relação mútua, empenhada e aberta com os conteúdos construídos.

Em Outubro de 2011, deu-se início à realização dos murais em São Tomé. A localidade de Boa Morte, sede do grupo de teatro santomense Tragédia Formiguinha da Boa Morte, que regularmente apresenta o Tchiloli ou a Tragédia do Marquês de Mântua e do Imperador Carloto Magno, acolheu assim a primeira pintura de Jornal Mural, que se apropriou um excerto de Rua de Sentido Único, de Walter Benjamin (trad. portuguesa in Imagens de Pensamento, 2004). Em Agosto de 2012, na localidade de Saudade, a comunidade já convidada a cooperar no projecto Soya Kutu, envolveu-se na realização de uma nova pintura mural, baseada na discussão colectiva em torno de uma adaptação de A História Dramática de um Ovo (António Areal, 1967) associada a um excerto de in-extremis (f. m. palma-dias in Arquipélago, 2011).
Em Agosto de 2013, na cidade de Santo António, cidade capital da ilha do Príncipe, viria a concretizar-se um mural distinto. Reunindo em assembleia pública convidados locais, transeuntes e pontuais interessados, discutiu-se a importância da presença da ponte, enquanto elemento arquitectónico crucial para esta cidade fisicamente cruzada pelo Rio Pagué e imaginativamente dividida pelo Rio que separa mouros e cristãos, durante a representação do Auto de Floripes.


A primeira edição do Jornal Mural, que contou com 60 autores convidados, foi construída e apresentada em Portugal, tendo sido afixados em Lisboa (Novembro, 2010) um conjunto de cartazes, com um ou mais textos, fazendo referência a acontecimentos, obras e autores que formaram determinado chão cultural.

A segunda edição aconteceu por ocasião da exposição The days of this society are numbered, comissariada por Miguel Amado no Abrons Art Center, em Nova Iorque (Maio, 2011). Para esta edição foram criados cartazes por artistas que pudessem trabalhar no legado Situacionista, tendo sido proposta uma criteriosa selecção de 17 artistas nacionais e estrangeiros.


Jornal Mural, Boa Morte, São Tomé (2011)


Jornal Mural, Saudade, São Tomé (2012)


Jornal Mural, Santo António, Príncipe (2013)