SOYA KUTU

OFICINAS CRIATIVAS COORDENADAS POR INÊS CASTAÑO E LUISA SEIXAS REALIZADAS ENTRE 2012 E 2013, EM SETE LOCALIDADES DO ARQUIPÉLAGO DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE, COM MARIA DO CÉU MADUREIRA, MIGUEL FERRÃO E EDUARDO GUERRA.

Soya Kutu D’amala designa uma troca de adivinhas na tradição oral santomense, realizadanum contexto familiar e lúdico. Cada enigma lançado instiga à discussão, à reflexão e à troca, constituíndo-se um espaço de criação de curtas narrativas construídas em conjunto, na partilha de uma vontade comum.

A apropriação do fragmento Soya Kutu (estória curta em crioulo forro) exprime a motivação para a criação de estórias curtas, através do desafio, da partilha e da reflexão. A construção partilhada e o desafio criativo determinam um processo de cariz pedagógico, assente na integração de diferentes formas de saber, baseado na discussão do património santomense e com vista ao desenvolvimento de uma consciência cultural.

SOYA KUTU PRETENDE, ASSIM, CONSTITUIR UM ESPAÇO LÚDICO ONDE TUDO É ENTENDIDO COMO POSSIBILIDADE DE CONSTRUÇÃO NA RELAÇÃO DE UM COM O TODO, APRESENTANDO-SE A CRIATIVIDADE E O ACTO IMAGINATIVO COMO ESTÁDIOS PRIMEIROS NA TRANSFORMAÇÃO E TRADUÇÃO DO REAL.

Tomando o processo criativo como agregador de diferentes motivações e vontades o modelo de oficina, assente no fazer junto, propõe instaurar um diálogo aberto com as comunidades, integrando-as nas diferentes etapas de decisão.

Os usos populares e o conhecimento das plantas medicinais assumem, neste contexto, uma ampla capacidade de discussão enquanto expressões de um património natural e cultural em si mesmos, permeáveis à sensibilidade de todos. Capazes de envolver, motivar e aproximar cada participante, estes promovem a construção desse mesmo espaço lúdico fundado nas relações estabelecidas pelas suas potencialidades narrativas presentes, de modo generalizado, no quotidiano santomense.

EM TORNO DAS PLANTAS MEDICINAIS CONSTITUÍRAM-SE COMUNIDADES IMPROVÁVEIS QUE POSSIBILITARAM NOVOS OLHARES SOBRE O TERRITÓRIO E O PATRIMÓNIO NATURAL E CULTURAL, GERADOS PELO CRUZAMENTO DE DIFERENTES ÓRBITAS DE CONHECIMENTO; ESTABELECE-SE UMA REDE RELACIONAL ENTRE AS NARRATIVAS DO FORO INDIVIDUAL, COLECTIVO OU AINDA DE CARÁCTER UNIVERSALIZANTE.

A imagem em movimento, enquanto meio eminentemente discursivo, remete-nos novamente à tradição oral; à capacidade de traduzir aquilo que se sabe, apreende e experimenta. A construção de cada objecto exige dos grupos de trabalho (constituídos por dez a quinze elementos com idades compreendidas entre os sete e os dezassete anos) assertividade narrativa e o domínio do meio audiovisual, recorrendo aos príncipios da tradição oral, convocando cada um dos seus participantes a constituir uma voz colectiva traduzida nos objectos de imagem em movimento — estórias curtas de todos.

DEPOIS DO DIA DO BOCADO realizado por Aleksander Ramos, Alexia Tavares, Eliza Augusto, Elisa Monteiro e Esmael da Conceição ESTÓRIA DO GIRASSOL realizado por Emanuel Silva, Laelson Cabangala, Dionísia Dias e Marlene Cabangala SR. GANANCIOSO & SR. ATENCIOSO realizado por Henridson Tomaz, Edson Tavares, Bruno Afonso, Elizabete Augusto e Marlene Augusto REMÉDIOS DA MINHA FAMÍLIA- MINDJAN NÁ NI MÓ NÓ realizado por Lenita Leny Lourenço, Pabokssy Pereira, Elton Semedo, Benzilu da Costa, Cilândia Cosme, Diana Conceição, Heldy Inglês, Neila Campos e Camila dos Santos UMA PLANTA É UMA FARMÁCIA - UM’Á FIA CÓPÔI YÓGÓ NÓ realizado por Joel Leopoldino, Pascoal Casimiro, Daniela Luís, Edmilson da Silva, Cadekse Madre Deus, António Lourenço, Dalila Kelly Pereira e Dila Montinho O JOGO DAS PERGUNTAS realizado por José Maia, Delmy Barros, Simara Ferreira, João Vilaseca, Elda Menezes e Paulo Jorge A BOA PREPARAÇÃO DE REMÉDIOS TRADICIONAIS - A GARRAFA ZIZI realizado por Eugénia Ferreira, Iudimilson Conceição, Mickley Nascimento, Manuel da Costa, Leticia Correia e Nilsa Lima O SEGREDO DO MESTRE realizado por Danilson Lopes Cardoso, Enrique Mendes Batista, Milay Lopes, Romana Barros, Rosa Neves e Tânia Cassandra CRESCER E APRENDER COM SAMÉ MADÁ realizado por Armando Albergaria, Daniela Tavares, Edson Prazeres, Jucilene Veiga, Páscoa Conceição e Renato Apresentação AZAGOA DE SAMÉ TETUGA realizado por Imildes Correia Bonfim, Inês Tavares, Leandro Leite, Lindiana Leite, Rosa Varela e Vidilson Borges O LITO TINHA TINHA realizado por Albertina Aurora, Edimilson Correia Varela, Esternalda Varela, Idalécio Alves, Isidoro Gomes e Nídia Aurora O CICLO DO TERAPEUTA realizado por Eliezer Trindade, Eliezetai Trindade, Isimar da Mata, Kelmiro da Silva, Nilson da Mata, Renildo Gomes Borges e Ronésio Lopes O MOMENTO CERTO realizado por Adozinda Batista, Carlos Cassandra, Ester Fonseca, Geny Neves, Hamicalton Lavres, Idalina Barros, Lucília Cabral e Vargas Andrade.

A disseminação dos objectos audiovisuais no espaço televisivo santomense potenciou o carácter educativo de Soya Kutu, na sensibilização para as boas práticas da medicina tradicional e para as vantagens de uma utilização segura de plantas medicinais. No mesmo sentido, o manual de campo produzido para o desenvolvimento das oficinas tem uma aplicação estendida a todos os contextos de utilização de plantas medicinais.

O processo de trabalho foi definido em parceria com a etnofarmacóloga Maria do Céu Madureira, cuja investigação acerca das plantas medicinais se baseia na proximidade com os terapeutas e parteiras locais e o saber tradicional (acerca desta investigação consulte Os segredos do Ôbo). Desta relação dependeu também a escolha dos locais de trabalho, tendo em conta as suas características culturais e geográficas.
A colaboração com a dupla de artistas visuais Eduardo Guerra e Miguel Ferrão (Musa paradisiaca) assenta em princípios estruturantes à sua prática criativa, baseada no diálogo, na constituição de parcerias temporárias e improváveis em torno do discurso. A influência do seu modus operandi na construção de Soya Kutu potenciou um processo de decisão e acção ancorado no debate permanente.

EM CADA UM DOS LOCAIS A PARTICIPAÇÃO DE TERAPEUTAS E PARTEIRAS TRADICIONAIS, DETENTORES DE UM SABER PROFUNDAMENTE ENRAIZADO NA TRADIÇÃO ORAL LOCAL, E COM UMA PRÁTICA TERAPÊUTICA REGULAR, DELINEOU UMA RELAÇÃO ESPECÍFICA COM O TERRITÓRIO, O PATRIMÓNIO NATURAL E CULTURAL.

NA ILHA DE SÃO TOMÉ, SOYA KUTU FOI DESENVOLVIDO EM PARCERIA COM A COMUNIDADE DE SAUDADE, COM A PARTICIPAÇÃO DE SAM PALMIRA, SUM JOSÉ GOMES E SUM MANUEL PEREIRA, NA CIDADE DE SÃO JOÃO DE ANGOLARES COM O APOIO DE SAM MAGASTA, SAM VIRGÍNIA, SUM JOSÉ GOMES E SUM MANUEL PEREIRA, E EM SÃO TOMÉ PARTICIPARAM SUM MANUEL PEREIRA E NILZA.

NA ILHA DO PRÍNCIPE, O PROJECTO DESENVOLVEU-SE NAS COMUNIDADES DE NOVA ESTRELA E PICÃO, COM O APOIO DE SAMÉ PAULA, SAMÉ NUNA, SAMÉ NINI, SUM COSTA, MUNUNA E BIQUEGILA E NA CIDADE DE SANTO ANTÓNIO COM A PARTICIPAÇÃO DE SAMÉ QUEIA, SUM COSTA, SAMÉ PAULA E MUNUNA.

SOYA KUTU são pequenas estórias de todos sobre as plantas medicinais de são tomé e príncipe.